Considerado como “O Primeiro Comunicador
do Brasil”, José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, nasceu em Surubim,
cidade localizada no agreste pernambucano, no dia 30 de setembro de 1917. Seu apelido vem da época do rádio, em virtude da
emissora em que trabalhara ficar em uma chácara e o comunicador sempre se
referir ao local como sendo a “chacrinha”. Sem que se tivesse noção, o apelido
virou nome conhecido mundialmente.
Quando Chacrinha entrou na rádio Clube de Pernambuco,
em 1937, convidado para uma palestra sobre o álcool e suas consequências, o
Brasil perdia um médico e ganhava seu mais célebre palhaço. Foi uma troca que lhe
valeu a fama. Chacrinha começou a estudar medicina em 1936, tentando se livrar
da palavra falência que sempre acompanhou seu pai comerciante.
Dois anos depois de começar seus estudos de medicina,
isto é, em 1938, caiu nas mãos de colegas já formados que o salvaram de uma
apendicite supurada e gangrenada. Ainda convalescente da delicada cirurgia,
ele, como percussionista do grupo "Bando Acadêmico", viajou como
músico no navio Bagé rumo à Europa, em 1939. Na volta desembarcou no porto do
Rio de Janeiro, decidido a tentar a vida na então capital federal.
No Rio, Chacrinha começou sua coleção de empregos.
Tentou ser locutor da rádio Vera Cruz e, posteriormente, da Tupi e da rádio
Clube Fluminense, mas seu forte sotaque nordestino não combinava com a função
de locutor comercial, pelo menos na época.
Na rádio Clube de Niterói, que ficava numa chácara em
Icaraí e insatisfeito com a programação onde atuava, Abelardo Barbosa pediu à
direção da emissora para fazer um programa de música carnavalesca tarde da
noite. "O Rei Momo na Chacrinha". O Programa vingou e foi ao ar em 1942. A fama de "doido"
estava consolidada. O estilo irreverente do comunicador, que recebia seu
público na chácara de cuecas e com um lenço na cabeça, acabou ganhando o
apelido de Chacrinha. Após o carnaval daquele ano, o programa mudou de nome
para "O Cassino da Chacrinha", assim mesmo, no feminino.
O programa era pouco convencional. Chacrinha simulava
entrevistas com artistas famosos e recriava a atmosfera de um verdadeiro
cassino com efeitos sonoros malucos que não dispensavam a colaboração de galos
e outros bichos que existiam na chácara. O "Cassino da Chacrinha"
ficou no rádio até 1955, quando o "velho guerreiro" foi batalhar na
televisão, no caso a Tupi do Rio, onde apresentava seu programa "Rancho
Alegre".
Quase todas as emissoras de televisão do Brasil
tiveram o apresentador como contratado. Já em 1959 a "Discoteca do
Chacrinha" era o programa mais popular da TV. O ex-futuro médico já se
apresentava com as mais extravagantes fantasias. Em 1968, o péssimo humor dos
censores não aprovava as maluquices e Chacrinha chegou aos anos 70 seguido de
perto por eles.
Seus programas de calouros e de divulgação da MPB,
como a Discoteca do Chacrinha, a Buzina do Chacrinha e o Cassino do Chacrinha
foram sucesso em todas as emissoras nas quais Chacrinha trabalhou: TV Tupi, TV
Rio, TV Bandeirantes e TV Globo.
A "Buzina do
Chacrinha" foi criada por ele em 1968, na TV Globo, quando comandava os
programas de calouros aos domingos. Às quartas-feiras era o dia da
"Discoteca do Chacrinha", programa que lançou muitos ídolos da MPB e
que tinha como atração as chacretes, que se transformaram em verdadeiras musas
da televisão na década de 70.
Quando o bacalhau
encalhou nas Casas da Banha, seu patrocinador na TV Tupi, Chacrinha arrumou um
jeito de reverter a situação. Durante o programa, virava-se para o auditório:
"Vocês querem bacalhau?" A platéia disputava a tapa o produto. As
vendas explodiram e ele explicou: "Brasileiro adora ganhar um
presentinho".
Em 1970, foi
contratado pela Rede Globo, mas, dois anos depois, retornou à Tupi. Estreou na
Bandeirantes em 1978 e, em 1982, voltou à Globo, onde apresentou o Cassino do
Chacrinha.
Chacrinha ficou
famoso criando um estilo próprio: usava roupas extravagantes, tocava uma buzina
para desclassificar os calouros de seus programas, dava um abacaxi como troféu
e dizia bordões como "Terezinha, uh, uh", "Quem não se comunica,
se trumbica", "Vocês querem bacalhau?" e "Eu vim para
confundir e não para explicar".
O seu programa também
lançou diversos artistas, incluindo as Chacretes, dançarinas usadas para atrair
o público masculino, numa "fórmula" que viria a ser copiada mais
tarde por muitos apresentadores.
Em 1987, foi
homenageado pela escola de samba carioca Império Serrano. Recebeu nesse mesmo
ano o título de professor Honoris Causada Faculdade da Cidade.
Abelardo Barbosa foi
casado com Florinda por 41 anos e teve três filhos: José Amélio, Jorge Abelardo
e José Renato. Faleceu no dia 30 de julho de 1988, de enfarte, no Rio de
Janeiro.
Frases de Chacrinha
"Eu vim pra confundir, não pra explicar."
"Na TV nada se cria, tudo se copia."
"Não sou psicanalista e nem analista. Sou vigarista."
"Alô Sarney, não perca de vista o pecuarista."
"A melhor lua pra se plantar mandioca é a lua-de-mel."
"Alô, Dona Maria, seu dinheiro vai dar cria."
"Honoris causa é a mesma coisa do que hors-concours."
"O mundo está em dicotomia convergente, mas vai mudar."
"Quem não se comunica, se trumbica."
"Terezinha, uuuuuhhh!"
Chacrinha era festa, era alegria, era entretenimento.
Seus programas eram cheios de vida, calor humano e divertidíssimos. O povo o
amava e não se esquece do Velho Guerreiro "balançando a pança e comandando
a massa", como diz a canção "Aquele Abraço" (1969), de Gilberto
Gil.
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Música